terça-feira, 6 de junho de 2017

Última Parada 174

Última Parada 174

Última Parada 174, dirigido por Bruno Barreto retrata a história do assaltante Sandro, aquele que por 5 horas dominou os passageiros do ônibus 174. O filme não trata do sequestro em si, mas sim da história de vida do assaltante.

Como recurso narrativo inicial, Bruno Barreto optou por mostrar a linha temporal de dois personagens.

Alessandro, “Ale”, filho de uma drogada que é expulsa do morro e passa a ser criado pelo traficante Meleca e a história do sequestrador Sandro, morador de favela que presencia a morte da sua mãe e após uma breve estadia na casa de sua tia resolve morar nas ruas.

Sandro vai dormir nas escadas da Candelária, onde passa a ser chamado de “Ale”.
O destino dos dois se cruza quando Alessandro, que fornecia droga para as crianças da candelária decide ir cobrar uma dívida.

Nesse momento vale ressaltar a participação especial de Douglas Silva, o Acerola de Cidade dos Homens. No pouco tempo em que ele aparece, mostra porque ganhou um prêmio internacional.

Sandro, que era uma das crianças da Candelária é quem deve arrumar o dinheiro para pagar as drogas, mas não consegue.

Nesse mesmo dia, acontece a famosa Chacina da Candelária e Sandro foi um dos sobreviventes, fingindo-se de morto. Com a chacina, Sandro tem um depoimento gravado exibido nos telejornais.

Nesse momento, a mãe de Alessandro, que fora expulsa da favela, acredita que aquele é seu filho e parte em busca dele.

Os dois voltariam a se encontrar em um centro de recuperação de menores e acabam se tornando amigos. Fogem, cometem crimes, brigam e a história tem aquele desfecho que nós já conhecemos.

A jornada de Sandro

O roteiro Última Parada 174, escrito por Bráulio Mantovani propõe uma análise do que levou uma criança comum a se tornar a protagonista de mais um caso trágico no Brasil. A famosa “falta” de oportunidade e a vida difícil no morro são o pano de fundo da grande maioria de filmes do gênero.

O filme tenta mostrar o tempo todo que Sandro era apenas mais um produto da desigualdade social que ronda o Brasil. Criança pobre, traumatizada pela morte da mãe e sobrevivente de uma das maiores chacinas da história do país que sonha em ser um cantor de Rap e fazer sucesso.

O destaque desse filme Última Parada 174 vai para o ator que interpreta Sandro, Michel Gomes. Essa nova safra de atores vem surpreendendo. Pena que ficam apenas nesse tipo de papel. Jovens do morro que acabam se envolvendo com o crime.

A atuação de Michel merece ser citada pela facilidade de mostrar a transformação do personagem ao longo do filme. Optaram por usar um desconhecido, já que os atores que se enquadram nesse tipo de papel já estão saturando as telas do cinema.

Temos também a participação do ator André Ramiro, o Aspira Matias de Tropa de Elite interpretando ironicamente o Capitão do Bope que comandou as negociações. Vê-lo na tela foi como assistir o filme de Padilha novamente.

Vida real x ficção

O filme Última Parada 174 é inspirado pelo documentário de José Padilha (Tropa de Elite), Ônibus 174. No documentário, a história do sequestro é contada paralelamente à história de vida do assaltante.

No filme, a história de vida é contada mostrando como Sandro chegou ao fatídico dia 12 de Junho de 2000. O filme ainda utiliza algumas licenças poéticas para se enquadrar no formato de cinema.

A catarse se dá quando todos esses fatores coincidem com a passagem de um ônibus no lugar errado, na hora errada.
Última Parada 174 é o candidato brasileiro ao Oscar, mas, sinceramente, não sei se terá fôlego pra aguentar a disputa.

O filme se preocupa em mostrar a todo o momento como a sociedade é a culpada pelo que Sandro se tornou. Por trás do assaltante existe um humano, claro, mas a vida traumatizante não é fator de redenção para ninguém.

Uma pessoa que não tinha nada a ver com Sandro, com a situação toda foi morta naquele dia, além do próprio assaltante. No filme ela é apenas uma personagem sem nome (mas ninguém se lembra dela atualmente, a não ser os familiares).

Nesse caso, a maior vítima, mãe de família, foi tratada como mais uma das milhões de pessoas que morrem todos os dias. Já Sandro, é tratado como um produto da sociedade brasileira que, pela falta de oportunidades, acabou se tornando um criminoso.

A vida de bandido foi glamurizada e amenizda, dando um certo perdão ao assaltante por ter um passado triste.

Uma das cenas finais de Ultima Parada 174 é emblemática e reflete o qu eu penso sobre essas tragédias brasileiras.

O tio de Sandro, marido de sua tia, ao chegar em casa e vê-la chorando apenas olha para a televisão e a desliga. Nesse momento tive dois pensamentos distintos: Ao desligar a televisão, fechamos os olhos e os problemas desaparecem.

Ou então, é só desligar a televisão que amanhã tem mais.


Direção:
 Bruno Barreto


Roteiro:
 Bráulio Mantovani


Elenco:

 Michel Gomes, André Ramiro, Cris Vianna, Marcello Melo Jr., Gabriela Luiz, Anna Cotrim, Tay Lopez, Douglas Silva, Rafael Logan

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